quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Noite do Natal do Senhor: Por tua causa!


“A graça de Deus Se manifestou trazendo salvação para todos os homens!” Esta palavra da segunda leitura desta Noite santíssima exprime de modo admirável o sentido da Festa de hoje.

Vinde, caríssimos, aproximemo-nos do Presépio!
Para nossa surpresa, encontraremos, envolto em faixas, reclinado na manjedoura, Aquele que é a Graça de Deus feita carne, feita gente, feita um de nós; a graça de Deus com rosto humano!
Que Mistério tão grande e tão doce!

Andávamos perdidos, como tantos ainda hoje – cada vez mais, ainda hoje!
Não tínhamos um sentido para a vida;
éramos presos por nossas paixões, escravos de nossos desejos desencontrados, entregues aos nossos próprios pensamentos, que levam ao nada.
Orgulhosos, seguíamos, cada um de nós, suas próprias ideias.
Como os pagãos de hoje, pensávamos que éramos livres por fazermos o que queríamos, por seguir nossa tênue e obscura luz...

E, no entanto, éramos escravos de nós mesmos e de um mundo cego e perverso...
Não sabíamos o que fazer com a vida, com a dor, com nossos instintos e tendências, com as feridas da existência; não compreendíamos o sentido do nosso caminho, não conseguíamos vislumbrar a estrada para a verdadeira felicidade e a verdadeira paz.

O homem sozinho não consegue se vencer, não consegue se superar, não consegue se libertar... Nossa vida parecia, como a dos pagãos de hoje, uma fiada de futilidades vazias de verdadeira alegria e nosso destino seria a morte, vazia e sem sentido.
Ainda hoje, tantos pagãos, nossos amigos e familiares, nossos distantes e nossos próximos, vivem assim!
Ainda hoje, há tantas lâmpadas na nossa cidade e tão pouca luz!

Mas, para nós, nesta Noite mil vezes abençoada, “a Graça de Deus Se manifestou”!
Nós vimos a Luz, Aquela que é capaz de iluminar a nossa existência!
Jesus – eis o mais doce dos nomes; eis o Nome dessa Graça bendita, Graça com jeito, choro, e sorriso de recém-nascido!

Vinde, vinde contemplá-Lo! Ele veio para nossa salvação!
Veio para nos arrancar de nós mesmos, de nosso horizonte fechado e estreito;
veio para abrir nosso pensamento, nosso sentimento, nossa vida, abri-los à dimensão do coração de Deus, fazendo-nos felizes e verdadeiramente humanos!
Não seremos nós mesmos, não seremos realizados, não seremos livres, a não ser abrindo-nos para Ele!
Acolhamos a Graça para nós nascida, por nós vinda, e vivamos uma vida nova: “Ela nos ensina a abandonar a impiedade e as paixões mundanas e a viver neste mundo, com equilíbrio, justiça e piedade!”
Ele veio, irmãos, porque, sozinhos, não conseguimos encontrar a verdade de nossa vida... Ele é a nossa Verdade, Ele é a nossa Vida!

Caríssimos, cada vez mais o mundo cai na treva, no paganismo, na cegueira. Tocamos, mais que nunca, a descristianização, a dissolução da família, a propagação do mal, a desmoralização de toda moral, de toda dignidade, de todo valor verdadeiro, a difusão de um pensamento anticristão e contrário aos santos ensinamentos da Igreja de Cristo.

Nesta Noite sacratíssima, quantos estão se embriagando, quantos adulterando, quantos, pelas emissoras de rádio e televisão, esbaldando-se em uma programação mundana; quantos, nesta Noite esplendorosa e doce, nem sabem que existe uma esperança, um sentido, uma mão de Deus estendida para toda a humanidade. Quantos, amados irmãos, dizendo-se ainda cristãos, vivem no pecado, aplaudem o que condenável pela santa Palavra de Deus, o que é vil aos olhos do Senhor; quantos há que se dizem cristãos e pensam e sentem e vivem como o mundo que não viu nem conheceu a Graça de Deus que hoje nos apareceu! Eis que a Graça de Deus, hoje nascida do ventre da Sempre Virgem, convida-nos à conversão, convida-nos a uma séria mudança de modo de viver. Não seremos cegos, se vivermos na Sua luz; não seremos perdidos, se seguirmos Seus passos; não viveremos na morte, se nos abrirmos para a Sua Vida!

Num de seus sermões de Natal, Santo Agostinho exortava, provocava: “Expergiscere, homo: quia pro te Deus factus est homo” - “Desperta, ó homem, porque por ti Deus Se fez homem!”!
E o santo Bispo de Hipona continuava: "Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti Cristo resplandecerá! Por tua causa, repito, Deus Se fez homem.
Estarias morto para sempre, se Ele não tivesse nascido no tempo.
Jamais te libertarias da carne do pecado, se Ele não tivesse assumido uma carne semelhante à do pecado.
Estarias condenado a uma eterna miséria, se não fosse a Sua misericórdia.
Não voltarias à vida, se Ele não tivesse vindo ao encontro da tua morte.
Terias perecido, se Ele não te socorresse.
Estarias perdido, se Ele não viesse salvar-te".

Caríssimos, tomemos consciência de tão grande graça!
Nesse Menino que repousa no presépio foi-nos dada a força para sair do sono miserável de uma vida medíocre e vazia, de uma existência morna e sem elã.

Desperta, ó cristão, porque hoje brilhou para ti a luz! Por ti, o Filho eterno fez-Se um de ti! Até onde Deus está disposto a te mostrar o Seu amor, a tirar-te de tua vida vazia!
Como exclamava a Liturgia medieval na Noite de hoje:
“Aquele que deu forma a todas as coisas recebe a forma de escravo;
Aquele que era Deus é gerado na carne;
eis que Ele é envolvido em panos, Aquele que era adorado no firmamento;
e eis que repousa numa manjedoura Aquele que reinava no céu”.


Despertemos, caríssimos! Que nossa alegria desta Noite, que a paz que inunda o nosso coração, transborde numa vida mais comprometida com o Cristo Jesus! Que nossa existência seja realmente conforme a santidade e a liberdade Daquele que hoje nasceu da Virgem Santíssima! “Porque nasceu para nós um Menino, foi-nos dado um Filho; Ele traz nos ombros a marca da realeza; o nome que Lhe foi dado é: Conselheiro admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, Príncipe da paz”. A Ele a glória, pelos séculos dos séculos. Amém.

sábado, 20 de dezembro de 2014

IV Domingo do Advento: Um Deus que nos apela no dia a dia

1Sm 7,1-5.8b-12.14a.16
Sl 88
Rm 16,25-27
Lc 1,26-38

Eis! Estamos no último dos quatro Domingos do santo Advento! Estamos já em plena Semana Santa do Natal, iniciada no dia 17 de dezembro passado.
A Igreja, agora, é toda atenção, toda contemplação do mistério da Encarnação, preparando-se para celebrar o Natal do Senhor.
Sua vinda é a nossa salvação,
Sua chegada é o anúncio da esperança a todos os povos, a toda a humanidade,
a anual celebração do Seu Natal recorda-nos que nosso Deus não é de longe, mas de perto, de pertinho da humanidade toda e de cada um de nós.

O Filho eterno de Pai fez-Se homem para encher de Vida divina a nossa existência humana. É esta o Mistério de que fala São Paulo na segunda leitura da Missa deste Domingo: “Mistério mantido em sigilo desde sempre. Agora, este Mistério foi manifestado e conforme determinação do Deus eterno, foi levado ao conhecimento de todas as nações, para trazê-las à obediência da fé!”

Antes, parecia que Deus era Deus somente de Israel, esquecendo os outros povos, a grande massa da humanidade. Agora, não! Com a aproximação do Santo Natal, contemplamos a benevolência de Deus para toda a humanidade: no segredo do Seu coração havia um amoroso e misterioso projeto: salvar toda a humanidade pelo Fruto que haveria de vir da raça de Israel, da tribo de Judá, da Casa de Davi.

Mas, atenção: aqui não há nada de um sonho adocicado, de uma boa nova sem exigência de uma resposta generosa de nossa parte: as nações e cada um de nós devemos abrir-nos à “obediência da fé”, isto é, à conversão de toda a nossa vida ao Cristo-Deus que o Pai nos enviou! Em outras palavras: Natal sem conversão não é Natal! Louvação ao Messias que vem sem o esforço da conversão a Ele, é falsa louvação, que honra com os lábios e não com o coração!

O que nos deve encantar neste Domingo, caríssimos, não é somente a grandiosidade desse Mistério, dessa surpresa de um Deus que, desde sempre, preocupou-Se com todos, com toda a humanidade e não só com Israel...
O que nos deve encantar é também o modo como o Senhor realiza o Seu desígnio: Ele age no escondido da história humana, no pequenininho de nossas vidas, nas humildes decisões de nossa existência. Ah! Deus do dia a dia, é o nosso Deus; Deus das coisas pequenas, das humildes sementes, dos acontecimentos corriqueiros!

Pensemos bem! Primeiro, o rei Davi, humilde pastor de Belém, mais novo dos muitos filhos do velho Jessé. E Deus o escolheu: para rei e para dele fazer uma dinastia da qual nasceria o Santo Messias. Davi, que desejava humildemente construir uma Casa, um Templo para o Senhor, fica sabendo que é Deus quem lhe construirá uma Casa, isto é, uma Dinastia, uma descendência, da qual nascerá Aquele bendito Descendente que enche de alegria o nosso coração: “O Senhor te anuncia que te fará uma casa. Quando chegar o fim dos teus dias e repousares com teus pais, então, suscitarei, depois de ti, um filho teu, e confirmarei a sua realiza. Eu serei para ele um pai e ele será para Mim um filho. Tua casa e teu reino serão estáveis para sempre diante de Mim, e teu trono será firme para sempre!”

Eis a bondade do Senhor, que de um simples pastorzinho fará nascer o Salvador, o Eterno Rei-Pastor, que reina para sempre.
Depois, podemos pensar em José, naquele que tinha recebido como prometida em casamento uma Virgem mocinha chamada Maria... José, homem simples, moço de Deus. Membro pobre da família real de Davi, simples artesão. Moço de Deus, que vivia na justiça do Senhor, praticando a Lei do Deus de Israel. E o Senhor, misteriosamente o escolhe para ser o esposo daquela na qual se cumprirá a palavra do Senhor.
Recordemo-nos do Evangelho segundo São Mateus: “José, filho de Davi, não temas receber Maria, tua mulher, pois o que nela foi gerado vem do Espírito Santo. Ela dará à luz um filho e tu o chamarás com o nome de Jesus, pois Ele salvará o Seu povo de seus pecados” (Mt 1,20-21). Pobre José! Bendito José! Jamais esperaria tal coisa, tal gesto imprevisto do Santo de Israel! Ele, um simples carpinteiro, cuidador, tutor, guardador, de um filho que não seria seu filho! Ele escutaria, doravante, o Filho eterno do eterno Pai, chamá-lo de “pai”!

Finalmente, pensemos em Maria!
Aqui a surpresa de Deus chega ao máximo! Uma jovenzinha pobre, uma virgem sem nome importante, perdida nas montanhas do norte da Terra Santa, em Nazaré da Galiléia... E o Senhor Deus lhe dirige a palavra, faz-lhe a mais estonteante proposta que um pobre filho de Eva jamais escutara:
ser, virginalmente, a Mãe do Messias, a Mãe do Filho de Deus, a Terra bendita e santa da qual brotaria a Raiz de Jessé, o Rebento prometido;
ser a doce Aurora do Dia sem fim, ser a Estrela d’Alva que prenuncia o Sol eterno!
“Alegra-te, Cheia de Graça! O Senhor é contigo, Virgem Maria! Não tenhas medo, Maria, porque encontraste graça diante de Deus!”

São Bernardo de Claraval, no século XII, imaginando este encontro inaudito, entre a Virgem e o Anjo, diz a Nossa Senhora: “Ouviste, ó Virgem, que vais conceber e dar à luz um filho, não por obra de homem, mas do Espírito Santo. O Anjo espera tua resposta. Também nós, Senhora, miseravelmente esmagados por uma sentença de condenação, esperamos tua palavra de misericórdia. Eis que te é oferecido o preço de nossa salvação; se consentes, seremos livres; com uma breve resposta tua seremos chamados à vida! Ó Virgem cheia de bondade, o pobre Adão, expulso do paraíso com a sua mísera descendência, implora a tua resposta; Abraão a implora, Davi a implora. Os outros patriarcas, teus antepassados, que também habitam a região da sombra da morte, suplicam esta resposta. O mundo inteiro a espera, prostrado a teus pés. E não é sem razão, pois de tua palavra depende o alívio dos infelizes, a redenção dos cativos, a liberdade dos condenados, enfim, a salvação de todos os filhos de Adão, de toda a tua raça. Apressa-te, ó virgem, em dar a tua resposta! Por que demoras? Por que hesitas? Crê, consente, recebe! Abre, Virgem santa, teu coração à fé, teus lábios ao consentimento, teu seio ao Criador. Levanta-te pela fé, corre pela entrega a Deus, abre pelo consentimento. ‘Eis aqui a serva do Senhor, diz a Virgem; faça-se e mim segundo a tua palavra’!”

Eis, caríssimos, irmãos! Tão grande plano de Deus, tão grande salvação, deu-se na simplicidade de vidas humanas que foram dizendo sim ao Senhor, que foram se abrindo para Ele nas pequenas e escondidas ocasiões da vida:
Maria, a Virgem, santa prometida ao Carpinteiro,
José, o pobre descendente de Davi,
Davi, o pastor que se tornou rei...
E agora – ainda agora – o Senhor vem e nos convida a nós – a mim e a você – a que abramos nossa vida, nosso pequeno cotidiano, para a Sua presença.
Através de cada um de nós Ele deseja continuar a obra de Sua salvação, a marca da Sua presença neste mundo enfermo e cansado.


Virgem Maria, Mãe de Deus, São José, esposo da Virgem, São Davi, rei e profeta, intercedei por nós, para que sejamos dóceis e úteis instrumentos da salvação que Deus hoje quer revelar e atuar no coração dos homens e do mundo. Que através de nossa pobre vida, vivida com disponibilidade, o Senhor Jesus seja visto no nosso mundo tão confuso, tão disperso, tão superficial e ameaçado por tantas trevas. Amém.

sábado, 13 de dezembro de 2014

III Domingo do Advento: Vem, Jesus tão esperado!

Is 61,1-2a.10-11
Salmo: Lc 1,46-54
1Ts 5,16-24
Jo 1,6-8.19-28
           
A tradição litúrgica da Igreja chama este Terceiro Domingo do Advento de Gaudete, isto é “Alegrai-vos!” No Missal Romano, a antífona de entrada exclama: “Alegrai-vos sempre no Senhor. De novo eu vos digo: alegrai-vos! O Senhor está perto!” (Fl 4,4.5). Como expressão dessa alegria, pode-se usar no lugar do roxo, o cor-de-rosa, no tom conhecido como “rosa antigo”. É um roxo suavizado, mistura do roxo do Advento com o branco do Natal que já está às portas. Assim, a Liturgia exprime a exultação pela aproximação da Santa Natividade do Salvador, o Cristo nosso Deus. Alegrai-vos, pois! Alegremo-nos! O Senhor está perto! Está próximo o Natal; está próxima a Vinda do Senhor; está próximo de nós o Salvador nosso nos diversos momentos de nossa existência! Ele não é Deus de longe; é Deus de perto: Seu Nome será para sempre Emanuel, Deus-conosco!

Alegrai-vos! Há quem se alegre no pecado, há quem se alegre em futilidades, há quem, mesmo alegrando-se com coisas que valem a pena, esquece que toda alegria é passageira. Há os que de tantas pequenas, miúdas, passageiras alegria, se esquecem da alegria verdadeira, aquela única que sacia o coração e faz a vida valer a pena!

Quanto a vós, caríssimos, alegrai-vos com tudo quanto é bom e louvável, mas colocai vossa maior e definitiva alegria no Senhor! Isto mesmo, com o Apóstolo, eu repito: “Alegrai-vos no Senhor! Alegrai-vos sempre no Senhor!” Somente Nele o coração repousa plenamente, somente Nele encontra-se a paz que dura mesmo em meio à tribulação mais dura, somente Nele o anseio mais profundo de nossa alma. Alegrai-vos! Mas seja o Senhor o fundamento da vossa alegria, a causa última da vossa exultação!

Mas, quem é esse Senhor em Quem nos mandam que nos alegremos? O Batista, neste hoje, nos adverte: “No meio de vós está Aquele que vós não conheceis!” Quem é ele? Quem é este “Aquele”? João Batista, como bom mensageiro faz questão de desaparecer: “Não sou o Messias, não sou Elias (coitados dos que imaginam que João é Elias reencarnado!), não sou o Profeta anunciado por Moisés! Sou apenas a voz que grita no deserto: ‘Aplainai o caminho do Senhor!’” Insistimos: quem é esse que está no nosso meio e que é preciso conhecer e reconhecer sempre de novo para ter a alegria verdadeira? Ele é o Messias, Jesus de Nazaré, o Ungido de Deus, o Enviado para trazer a salvação, a alegria e a paz para todos os pobres de todas as pobrezas do mundo. Ouçamo-Lo, deixemos que Ele Se nos apresente: “O Espírito do Senhor Deus está sobre Mim, porque o Senhor Me ungiu; enviou-Me para dar a Boa-nova aos humildes, curar as feridas da alma, pregar a redenção aos cativos e a liberdade para os que estão presos; para proclamar o tempo da graça do Senhor!” Eis, caríssimos, o Messias que esperamos, o Salvador que Deus nos concedeu. Ele, que veio em Belém, que virá no final dos tempos, Ele mesmo vem a cada dia de nossa atribulada existência! - Vem, Senhor Jesus! Vem, santo Messias! Teu povo suspira por Ti, Tua Igreja sofrida e caminheira precisa de Ti! Não nos abandones, não nos deixes sozinhos! Vem, Ungido de Deus, prometido aos nossos pais, anunciado pelos profetas, apontado pelo Batista, colocado sob a guarda do carpinteiro José, concebido e dado à luz pela Virgem Mãe! Vem, e a Mãe Igreja exclamará (e nosso coração exclamará  com ela): “Exulto de alegria no Senhor e minha alma regozija-se no meu Deus; Ele me vestiu com vestes de salvação; adornou-me como um noivo com sua coroa ou uma noiva com suas joias!”

Caríssimos, eis a causa da nossa alegria. Nós, os cristãos, temos direito de nos alegrar, mesmo diante das tristezas do mundo; temos o dever de manter a esperança, mesmo quando as possibilidades humanas fracassam; temos a oportunidade de continuar esperando ainda quando os nossos cálculos mostrem-se errados. Porque nossa esperança e certeza não se fundam em nós nem em nossas possibilidades, mas Naquele que vem, Naquele que o Pai do céu nos envia, Naquele que nunca conseguiremos conhecer totalmente, o Santo Messias do Pai, Jesus, nosso Deus-Salvador!

Resta-nos, então, escutar com atenção o conselho do Apóstolo: estar sempre alegre em Cristo; com os olhos fixos Nele; orar sem cessar, buscando realmente ser amigo íntimo do Senhor, dando graças em todas as circunstâncias, sabendo que Ele está próximo de nós, nunca longe de nossas aflições e desafios. E mais: afastarmo-nos de toda maldade, procurando viver segundo Cristo e não segundo o mundo, santificando no Senhor nosso corpo, nossa alma e nosso espírito ou, em outras palavras, nossa dimensão física, nossa vida inteligente e nossa sede de Deus, nossa saudade de Infinito.

Caríssimos, num mundo que nos despreza porque somos cristãos, numa sociedade pagã, que nos ridiculariza e nos olha com indiferença, tenhamos esta certeza: “Quem vos chamou é fiel; Ele mesmo realizará isso!” Ele nunca nos deixará!


Que a escuta da Palavra santa do Senhor e a participação no mistério do Seu Corpo e do seu Sangue nos preparem não somente para as festas que se aproximam – a Natividade, a Sagrada Família, Santa Maria Mãe de Deus, a Epifania, o Batismo do Senhor - mas, sobretudo para o Dia da Vinda do nosso grande Deus e Salvador Jesus Cristo! Amém.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A Imaculada: "Eu Te exalto, Senhor! Não deixaste rir de mim meus inimigos!"

“Com grande alegria rejubilo-me no Senhor, e minha alma exultará no meu Deus, pois me revestiu de justiça, como a noiva ornada de suas joias” (Is 61,10).
– Estas palavras do Profeta Isaías, com toda razão a Igreja as coloca hoje na boca da Virgem Maria.
De fato, estas elas exprimem bem o mistério da Festa de hoje, a Imaculada Conceição da Toda Santa Mãe de Deus!

Hoje, caríssimos, no ventre da velha Ana foi concebida a Virgem Maria. Que há de maravilhoso nisso?
Dizem as antigas fontes cristãs que Ana era já idosa e estéril como Sara, a esposa de nosso pai Abraão, como Isabel, a esposa do velho Zacarias. Pois bem, idosa e estéril, também Ana gerou no seu ventre uma filha!
É obra de Deus: onde não há vida Ele faz a vida brotar; onde já não há mais futuro, Ele faz o futuro acontecer! Bendito seja o Nome do Senhor, Deus criador perene da vida, Senhor que nos abre a porta da esperança!

Mas, o mistério da Festa de hoje, a alegria da Igreja neste dia, é por um acontecimento ainda maior, um mistério ainda mais admirável! Eis a surpresa, eis a obra estupenda do nosso Deus, escondida por trás da concepção da velha Ana: essa filhinha concebida hoje no ventre da anciã estéril, desde o primeiro momento de sua conceição, foi preservada por Deus de todo vínculo do pecado que pesa sobre a nossa raça!
O salmista diz: “Minha mãe já concebeu-me pecador!” (Sl 50/51,7). Estas palavras não se aplicam à Virgem Maria!
Desde o primeiro instante de nossa existência, todos somos marcados pela quebradura provocada pelo pecado de nossos antepassados... Não assim a Virgem Maria! Ela, desde o primeiro instante de sua existência, por pura graça de Deus, foi preservada do pecado original!
O mesmo Deus que “antes da fundação do mundo no escolheu em Cristo para que fôssemos santos e irrepreensíveis sob Seu olhar, no amor”, o mesmo Senhor Santo que “nos predestinou para sermos Seus filhos adotivos por intermédio de Jesus Cristo, conforme a decisão de Sua vontade”, Ele mesmo, por causa do Filho Jesus e pelos méritos do Filho Jesus, o “Cordeiro sem defeitos e sem mácula, conhecido antes da fundação do mundo” (1Pd 1,19s), predestinou e preservou de toda mancha do pecado a Virgem Maria, futura mãe escolhida para o Seu Filho! Assim, desde o primeiro momento de sua existência, a Virgem Maria foi revestida da justiça de Deus, foi justificada em Jesus Cristo, foi ornada de santidade como uma noiva ornada com suas joias pelo Noivo divino! Por isso mesmo, a liturgia da Igreja coloca na boca da Virgem Santíssima as palavras do salmo 29: “Eu Vos exalto, ó Senhor, pois me livrastes e não deixastes rir de mim meus inimigos!”.
Com efeito, caríssimos, a todos nós o Senhor arrancou da lama do pecado pela graça da Sua Páscoa. Mas, à Virgem Maria, Ele sequer deixou que a lama do pecado nela tocasse! Por isso, o Arcanjo Gabriel a saúda como “Toda Agraciada”, por isso também, a própria Virgem exulta dizendo: “Todas as gerações me chamarão bem-aventurada porque o Todo-poderoso fez grandes coisas em meu favor!” (Lc 1,48)
Meus caros em Cristo, hoje nós estamos reunidos em torno do Altar sagrado para proclamar todas essas grandes coisas que o Senhor realizou em nosso favor na vida da Virgem Maria!

É tão belo, tão significativo, agora que estamos cheios de santa ansiedade na preparação para o próximo Natal do Senhor, celebrar a Conceição Imaculada da Virgem Maria!
Ela já aparece como a doce Aurora do Dia da Salvação. A sua Imaculada Conceição, o dom imenso da sua vitória sobre o pecado já prenuncia Aquele que, vindo dela, esmagará a cabeça da antiga Serpente, do inimigo da nossa raça!
É por causa do Salvador, por causa Daquele que tira o pecado do mundo, que a Virgem foi preservada do pecado. Deus, “a fim de preparar para o Seu Filho mãe que fosse digna Dele, preservou Nossa Senhora da mancha original, enriquecendo-a com a plenitude da Sua graça. Puríssima, na verdade, devia ser a Virgem que nos daria o Salvador, o Cordeiro sem mancha que tira os nossos pecados!”

Caríssimos, vivemos atualmente num mundo em que o pecado parece ter mais força que nunca! Nossa civilização cada vez mais vai voltando as costas para a luz do Cristo: descrença, humana soberba, impiedade, imoralidade, orgulho, violência, materialismo, consumismo, relativismo moral, egoísmo, falta de solidariedade e compaixão, desrespeito pela vida humana e pelas leis de Deus – eis as marcas da nossa cultura, mais e mais transformada em “cultura de morte”.
E, no entanto, não temos o direito de perder a esperança! A Festa deste hoje nos mostra e nos faz experimentar na solene Liturgia o quanto o Cristo vence a treva do pecado, vence os laços da antiga Serpente, vence as marcas da morte!
A Imaculada Conceição de Maria é Aurora que nos garante que jamais as trevas vencerão o Cristo que, saído do ventre da Virgem, brilhou como luz para o mundo! Como afirmava Santo Efrém, o grande doutor da Igreja síria, Maria é o “santuário imaculado no qual Deus habitou. Maria gerou Deus, que enche o mundo de bênção e trouxe a vida ao mundo!” Por isso mesmo, diz o santo Doutor que “é grande o mistério da Virgem puríssima e supera toda língua, pois ela acolheu no seu seio o Rio da Vida que com as Suas águas irrigou o mundo e vivificou todos os mortos!”

Meus caros, o cristão não deve ser um iludido, um tolo ingênuo, um otimista bobo!
Sabemos que os sinais de treva, de dor, de pecado com todas as suas tristes consequências marcam ainda o nosso tempo e até mesmo o nosso coração. Mas, sabemos também que o Deus nascido da Virgem é o mesmo que vence o pecado e a morte, o mesmo em Quem já experimentamos a graça da salvação, o mesmo em Quem nos sabemos mais que vencedores!

Voltemo-nos, então, para aquela que hoje foi concebida sem pecado e, do fundo de nossa humana miséria, clamemos, com as intensas palavras da Liturgia oriental:
“Bendita Mãe de Deus, abre-nos a porta da tua benevolência!
Não fique desiludida a nossa confiança, que espera em ti!
Livra-nos das nossas adversidades!
Tu és a salvação do gênero humano!
É tão grande o número dos meus pecados, ó Mãe de Deus!
A ti recorro, ó Imaculada, à procura de salvação!
Consola a minha alma desolada e pede ao teu Filho nosso Deus, que me conceda o perdão dos meus pecados, ó única Imaculada, única bendita!
Deposito em ti toda a minha esperança, ó Mãe da Luz! Acolhe-me sob a tua proteção!”


Ó Maria concebida sem pecado, rogai por nós que recorremos a vós!