sábado, 6 de setembro de 2014

XXIII Domingo Comum: Uma Comunidade chamada Igreja, uma Comunidade chamada Amor


Ez 33,7-9
Sl 94
Rm 13,8-10
Mt 18,15-20

Nossa meditação da Palavra do Senhor neste Domingo pode ser desenvolvida em cinco afirmações. Ei-las:

(1) Cristo está presente na Sua Igreja; jamais a deixará, “pois onde dois ou três estiverem reunidos em Meu Nome, Eu estou aí, no meio deles”.

Quantas vezes tal afirmação foi distorcida como se bastasse que uns quatro gatos pingados se reunissem com a Bíblia e aí estaria Jesus. Nada disso!
O sentido é exatamente o contrário! Aqui, neste capítulo 18 de São Mateus, Jesus está falando sobre a vida da Igreja, comunidade que Ele fundou e entregou aos apóstolos, tendo Pedro por chefe.

Os dois ou três aos quais Se refere o Senhor  são o contrário do isolamento, do que se julga melhor que os demais e, sozinho, pensa ser o guardião do desígnio do Senhor Deus! Os dois ou três aqui são os líderes da Comunidade que vão decidir a questão do irmão que não quer ouvir os outros e divide a Comunidade! O que a Igreja liga ou desliga na terra – e são os pastores (os Bispos com o Papa) que têm, em última análise, essa responsabilidade – o Senhor ratifica no céu: “Em verdade vos digo, tudo o que ligardes na terra será ligado no céu, e tudo o que desligardes na terra, será desligado no céu!”

A autoridade que Cristo deu a Pedro de um modo todo especial, deu-a também aos demais Bispos, os pastores autênticos da Sua Igreja, em comunhão com Pedro.

Pois bem, onde dois ou três, como Igreja, estiverem reunidos em Nome do Senhor, Ele estará ali, ratificando suas decisões.

Que fique claro: não se pode agradar a Cristo, ser-Lhe fiel, isolando-se, rompendo com a Sua Comunidade, os dois ou três, comunidade chamada Igreja! Ela, por mais que seja frágil por causa da nossa fragilidade, é a Comunidade que o Senhor reuniu, sustenta e na qual Se faz presente e atuante!

(2) Essa Igreja é uma Comunidade de amor.
O amor cristão não é simplesmente amizade ou simpatia humana, mas o fruto da presença do próprio Espírito de Amor, o Espírito Santo em nós: “O amor de Deus foi derramado nos nossos corações pelo Espírito que nos foi dado!” (Rm 5,5) É desse amor divino e divinizante que fala São Paulo no capítulo 13 da Primeira Carta aos Coríntios; é esse amor que “cobre uma multidão de pecados” (Tg 5,20), é esse amor que é “a plenitude da Lei”.
Só ama assim quem se abre para o amor de Cristo, deixando-se guiar e impregnar pelo Seu Espírito de amor!

Ora, caríssimos, a Igreja deve ser o ambiente impregnado desse amor, mais forte que nossas diferenças de temperamento, de opiniões, de modo de agir...
Onde está o amor, a caridade, Deus aí está; onde o amor reina, o Reino de Deus está presente neste mundo! A Igreja deve ser o lugar do amor, lugar do Reino!

Mas, fique claro: não somos nós quem produzimos tal amor: é o Senhor Quem no-lo dá quando o recebemos no sacramentos; é o Senhor Quem fá-lo crescer em nós quando somos abertos e dóceis à Sua graça!

(3) Essa Comunidade de amor chamada Igreja  é Comunidade de compromisso, de responsabilidade no seguimento de Cristo.
Por isso, não se pode usar o amor para acobertar a covardia, a malandragem espiritual, a tibieza, a frieza para com o Senhor e os irmãos e os desmandos na Comunidade! O amor é exigente: “O amor de Cristo nos impele” (cf. 2Cor 5,14).
A infidelidade ao amor a Cristo e aos irmãos é, precisamente, o pecado, que gera a divisão, a desunião, que faz sangrar a Igreja.

Por isso o próprio Jesus nos exorta à correção fraterna, desde aquela simples, feita entre irmãos, até a correção formal e mais solene, feita pelo Bispo ou até mesmo pelo Papa, como Chefe Supremo da Igreja de Cristo neste mundo: “Se o teu irmão pecar contra ti, vai corrigi-lo; se ele não te ouvir, toma contigo mais uma ou duas pessoas; se ele não der ouvido, dize-o à Igreja”. A Igreja tem sim o poder das chaves (autoridade para punir e para reconciliar o que foi punido) dado pelo próprio Cristo Senhor!

Muitas vezes, vê-se confundir amor e misericórdia com a covardia ou o comodismo de não corrigir, de deixar passar, de mascarar o erro, o pecado, a infidelidade, a frieza...

Ora, a correção é um modo de amar, é um modo de preocupar-se com o outro e com a Comunidade que é ferida pelo pecado e o mau exemplo. A correção pode salvar o irmão!

Quantos escândalos nas nossas Comunidades poderiam ter sido evitados se houvera a correção no momento oportuno e do modo discreto e sincero que Jesus nos recomenda, ou melhor, nos ordena. Isso vale para a Igreja menorzinha, que é nossa família doméstica, vale para o grupo do qual participamos, vale para a paróquia, a diocese e a Igreja universal (não a “do Reino de Deus”, mas a de Cristo!), espalhada por toda a terra.
A omissão em corrigir é covardia, é falta de amor à Comunidade que é a Igreja, é pecado de omissão e desatenção pelo irmão.

Certamente, tal correção deverá ser feita sempre com amor, com discernimento, com caridade fraterna. São Bento, na sua Regra, dá um preceito encantador: “In tribulationem subvenire” – poderíamos traduzir assim: “socorrer na tribulação”. Mas, a palavra latina é subvenire: vir por baixo, vir de baixo. Ou seja, socorrer sim, corrigir sim, mas com a humildade de quem vem por baixo para sustentar, amparar e ajudar, para salvar; não vem com a soberba de quem está por cima para massacrar!
Corrigir, sim, mas como Deus, que em Jesus, veio por baixo, na pobreza do presépio e na humilhação da cruz! Aí a correção terá mais chance de surtir efeito! Uma correção assim edifica a Igreja e é sinal do Reino de Deus!

(4) Na Comunidade de amor às vezes pode ser necessária a punição. Pode ser que não surta efeito a correção fraterna; pode ser que aquele que é corrigido teime na sua dureza de propósito e repouse no erro. Jesus mesmo prevê tal possibilidade no Evangelho de hoje. E, então, o próprio Senhor exorta a que tal irmão seja punido.
Que escândalo para a nossa mentalidade atual, que confunde ser bom com ser bonzinho e misericórdia com conivência com o pecado e falta de coragem de corrigir!

A nossa tendência é somente recordar do Senhor as palavras que agradam! No entanto, a punição na Igreja não é pela vingança ou o desafogo, mas deverá ser sempre medicinal, isto é, para produzir o arrependimento e a correção, restabelecendo a paz na Comunidade e a salvação do irmão.
Que os pais tenham a coragem de corrigir; os Bispos e o Santo Padre também!

Corrigir é querer o bem do outro, corrigir é deixar claro o que é errado e o que é correto, é dar ao errado a possibilidade de cair em si e deixar o erro, é evitar que outros caiam também, é deixar claro aos que se esforçam pelo bem que vale a pena permanecer no que é certo, justo, louvável e virtuoso segundo Cristo! É este o espírito do Evangelho, o ensinamento dos Apóstolos!

(5) Qual o fruto de uma comunidade assim?
A saúde fraterna: a alegria de viver como irmãos: “Se ele te ouvir, tu ganhaste o teu irmão!”

Oh, que palavra tão doce: ganhar o irmão! Eis aqui o motivo último da correção fraterna! Pensemos bem, caríssimos: a Igreja não é um clube de amigos, mas uma família de irmãos em Cristo! É o amor do Senhor Jesus Cristo que nos une. A alegria da comunhão fraterna somente será experimentada na sinceridade das nossas relações.
Correção, sim; crítica destrutiva, murmuração, difamação, não!
Neste sentido, todos nós precisamos fazer um sério exame de consciência, seja em nível de família, como naquele de grupos e paróquias e até mesmo de Diocese!

São esses os aspectos que a Palavra de Deus nos põe hoje. Recordemos a exortação do Senhor pela boca de Ezequiel: se não corrigirmos o irmão e ele morrer no seu pecado, a culpa é nossa; se ele se corrigir, ganhamos o irmão: viveremos nós e viverá ele – eis a marca do Reino de Deus neste mundo!

Que ele aconteça em nossas comunidades! Amém.

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